Paralisia do íncubo: como sobreviver?

Set 28, 2022 | PERTURBAÇOES DO SONO | 0 comments

Alguma vez teve a sensação de que um ser demoníaco estava a esmagar o seu peito? É possível que, nesse caso, tenha experimentado o que se conhece como paralisia do íncubo, ou fenómeno do íncubo: um “ataque” de um demónio, que costuma ser considerado do género masculino.

Esta paralisia do sono é vivida pela maioria das pessoas como um pesadelo. Durante muitos séculos foi sendo dito que o demónio íncubo persegue os dormentes, inspirando contos no folclore tradicional e em outras obras de arte. Mas, em que consiste? E, por que se produz?

Paralisia do íncubo: o que é?

O fenómeno do íncubo ou da paralisia do íncubo é um transtorno paroxístico relacionado com o sono, e que se caracteriza por alucinações compostas, experimentadas durante breves fases de aparente vigília, ou seja, estando conscientes. Assim o explica uma investigação publicada na revista Frontiers in Psychiatry em 2017.

Esta condição é caracterizada pelo aparecimento de um ser que exerce pressão sobre o nosso tórax, e enquanto isso pode realizar atos agressivos e/ou sexuais. Costuma vir acompanhado de paralisia do sono, sensação de sufoco e/ou ansiedade. 

Este tipo de paralisia é classificado como um tipo de parassonia, e é atribuído a uma dissociação das fases do sono: uma mistura de vigília e intrusões de alucinações derivadas do sono de movimentos oculares rápidos (REM), nos quais o sistema de vigilância ativado por ameaças desempenha um papel importante. 

Isto pode causar muito medo a quem experiencia algo assim, incluso medo de morrer. O que se sabe é que este tipo de paralisia pode provocar insónia, transtorno delirante ou transtorno de ansiedade.

Perspetiva histórica e cultural

O fenómeno do íncubo é conhecido desde a antiguidade, e pertence a um número seleto de síndromes neuropsiquiátricas que exibem uma apresentação clínica notavelmente estável ao longo do tempo.

De fato, todas as culturas o aceitaram de alguma maneira. Isso provocou que, ao longo dos séculos, aparecessem numerosos modelos explicativos, que vão, desde a explicação deste íncubo como um recém-nascido falecido, até um mexicano morto, ou incluso a abdução extraterrestre no mundo ocidental.

Ainda que todas estas histórias estejam baseadas em estereótipos, uma investigação publicada na revista Consciousness and Cognition propôs uma hipótese para a origem da paralisia do íncubo. Os autores expressaram que os fundamentos neurobiológicos do fenómeno do íncubo estão integrados no cérebro, enquanto que as características fenomenológicas (e o significado atribuído) da criatura alucinada estão impregnadas de valores culturais, o que faz com que em cada cultura se imagine um tipo de íncubo.

O certo é que este tipo de paralisia não é demasiado conhecido. Isto deve-se a que a paralisia do íncubo (ou fenómeno do íncubo, como é conhecido dentro da comunidade científica) não figura na Classificação Internacional de Enfermidades e Problemas de Saúde Relacionados (ICD-10), ou no DSM-5, o Manuel Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais.

Paralisia do íncubo

Não é o mesmo o fenómeno do íncubo e a paralisia do sono

Ainda que, frequentemente, tenham sido estudados como se ambos fossem fenómenos interligados, o certo é que a paralisia do sono não é o mesmo que o fenómeno do íncubo. De fato, em muitos estudos que se levam a cabo não se faz distinção entre o fenómeno do íncubo e a paralisia do sono, e é também por isso que não é conhecida a taxa de prevalência exata desta paralisia do íncubo.

Por que é que se produz a paralisia?

Para a paralisia do sono, parece existir um maior risco associado, principalmente, à narcolepsia e a outros transtornos do sono, transtorno de stress pós-traumático, intoxicação por álcool, abuso sexual, enfermidade física ou stress. 

Outros fatores que podem aumentar o risco de sofrer uma paralisia deste tipo são dormir de barriga para cima (especialmente quando se padece de apneia obstrutiva do sono), ter um padrão de sono irregular, e também o uso de anfetaminas. 

O que fazer quando se produz a paralisia do íncubo?

As alucinações, as paralisias do sono, e a paralisia do íncubo da qual falamos, ocorrem, regra geral, para lá do nosso controlo. Não existe algo que se possa fazer para remediar essas situações. 

No entanto, se esta paralisia do íncubo lhe tem ocorrido de forma frequente, ou se, quando lhe aconteceu, teve também outros sintomas, como angústia ou problemas para dormir, o melhor será que se consulte com um médico, para saber quais as possíveis causas, e o que pode fazer para resolver o problema. E lembre-se: o seu descanso é vital para a sua saúde!